Uma luz que se apaga

por jul 27, 2022

É a perda de um amor que o descaso desprezou…

É o descarte de uma página que o tempo apagou.

São ouvidos que se fecham e sequer me ouvem os gritos…

São as juras não cumpridas naufragadas no infinito.

É um castelo de areia que o vento desmanchou…

É uma estrela reluzente que do céu abdicou.

É um príncipe encantado que deixou de ser bonito…

É uma festa requintada que termina em atritos.

É um abraço apertado que não quer mais apertar…

É um beijo demorado que não quer mais demorar.

São promessas postergadas que cansaram de esperar…

É a abóbada celeste numa noite sem luar.

É um sonho mal sonhado que se fez, logo, esquecer…

É uma alma angustiada que já não quer mais viver.

É a negridão de uns olhos que deixaram de luzir…

É a contração de uns lábios que não podem mais sorrir.

É a indolência de uns cabelos que não mais esvoaçaram…

É a gelidez de uns lábios que os outros recusaram.

São dois braços, quais os meus, que já não querem abraçar…

É uma boca inanimada que já não quer mais beijar.

É o silêncio de uma voz que para sempre emudeceu…

É uma inércia que separa o seu coração do meu.

É a mudez de uma voz rouca que, aos meus ouvidos, sussurrou…

É a palidez de um rosto que a morte congelou.

                                                  Silvio Cayua

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