
E de repente eu franzi a testa, passei os olhos em tudo o que havia em torno de mim e fiquei maravilhado com o mundo que me cercava.
Era o começo da história. Não tinha noção de certo ou errado, feio ou bonito, grande ou pequeno, melhor ou pior, mas tudo me parecia maravilhoso… E eu estava feliz.
Era o mundo do paladar (do leite, da água e da comida) que cedia lugar ao da percepção (do sol, da lua, do claro e do escuro), momento a partir do qual eu, de fato, tomava conhecimento da minha existência.
Tempos depois, lá estava eu ainda muito mais feliz e a vida me parecia muito boa. Pouco importavam as vestes que usava, a comida que consumia, a casa onde eu morava e o mundo que eu conhecia.
Era uma vida compartilhada com pessoas que pareciam sentir o maior prazer de estar ao meu lado.
Alguns anos passados, começava eu a estender a minha visão a horizontes mais distantes e a perceber um mundo contrastante com aquele da minha percepção inicial. Começava-me a me chegar à mente as primeiras ideias de um grito de liberdade preso na garganta.
Era o mundo da desigualdade, da negação, da diferenciação nem sempre justa entre as pessoas… Era um mundo no qual o valor de cada ser já não decorria do que ele era, mas do que ele aparentava ser.…. Não muito tardara para que eu já não estivesse tão feliz assim.
E o passar dos anos galopava no dorso do tempo.
Como num piscar de olhos, de repente, lá estava eu relegando a tendência natural, recusando-me a acatar aquilo que se havia convencionado chamar de destino…. Lá estava eu dando os primeiros passos de uma qualificação que desembocaria no escritor, no palestrante que um dia eu viria a me tornar…. Lá estava eu interpretando cada desfavorecido social como um condenado no qual eu poderia me tornar, se não levantasse da cadeira.
A fase do crítico social, apesar de contido, não tardaria a chegar.
Não muito demoraria para que as dores da mente se confundissem com as dores do corpo e me impusessem uma inquietação de tirar o sono.
E numa dessas noites mal dormidas me veio o choro do pensador que, sorrateiramente, instalara-se no meu interior.
E quem era aquele pensador? Um ser que pouco dormia e muito refletia acerca da minha existência… Alguém que olhava para o mundo, para si, para os seus semelhantes e formulava conclusões.
E foi em decorrência das conclusões desse pensador, que eu adotei a motivação como uma ferramenta para me transformar a expectativa de vida.
Foi esse pensador, no qual eu me tornei, que decidiu se tornar um palestrante motivacional e fazer das velhas carências, dos dissabores da própria vida, mas, principalmente, das suas conquistas e das soluções encontradas para sobreviver, uma fonte de inspiração a pessoas tais e quais eu fora um dia.
Foi esse pensador que se propôs, num certo dia, a transformar pessoas de baixa performance em vencedores.
Foi esse pensador que, inspirado no estado de carência da velha infância e no cheiro do próprio suor precocemente derramado, que decidiu que eu me tornaria uma fonte de inspiração, um impulsionador e um socorrista de pessoas de vidas emperradas.
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