
Não houve festa no novo lar nem muita gente a me esperar. Só passarinhos me festejavam e num canto alegre me anunciavam.
Só tinha água para beber – não tinha bolo para cortar. Não houve festa para anunciar – só um registro a se fazer.
No fim da tarde daquele dia, meio assustado eu conhecia uma neblina que antecipava a chuva mansa que se avizinhava.
Não muito tardara, um choro gelado que cai no telhado de palhas da selva e vai para o chão e se espalha na relva, jogando no ar de todo o lugar um quê de beleza identificado com a simplicidade daquela pobreza.
E veio a noite em negridão. Minha mãe, rezando uma oração, rogava brilho paro meu viver – antecipando-se ao meu sofrer.
Virei criança de pés no chão, perambulando pelas picadas, me arriscando pelas jangadas…Pisando o lixo das palafitas, jogando bola, soltando pipas…Cravando farpas nos jovens pés, atravessando os igarapés…Correndo riscos nos pantanais, fincando os pés nos lamaçais…Colhendo palha de buriti, tomando vinho de açaí…Fazendo abrigo nas canaranas, dormindo em rede – não tinha cama! Sempre esperando o sol nascer e ouvindo pássaros ao entardecer.
A mente de hoje, após comparar aquele universo com a vida de cá – sabendo-se que eu nunca esqueço de lá – num tom taxativo, sem pestanejar, lhes trago um desejo para ainda em vida eu manifestar: se aqui eu morrer, devolvam-me ao meu lugar…!
Silvio Cayua
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