Balão de São João

por out 4, 2021

Sob determinado prisma, há momentos na vida em que podemos nos comparar a um lindo balão de São João, pois… 
Assim como um daqueles altivos balões que deslizam pelos céus da Cidade Maravilhosa, alguém nos idealizou, nos compôs, nos concebeu e nos alimentou certa vez. Alguém, um dia, nos embelezou, nos dotou de todos os recursos necessários à decolagem, ao voo seguro… Alguém já nos levou no seu cruzeiro dos sonhos, já se fez realizar na nossa companhia, já matou a sua sede na nossa fonte mais sublime… Alguém já nos aplaudiu incessantemente em desfiles pelos palcos dessa vida de memória fugaz, para nos ignorar entre cinzas e furacões mais à frente.
Assim como acontece a um imponente balão de São João, alguém um dia nos levou consigo, pôs-se à nossa sombra, degustou os nossos melhores frutos, aqueceu-se na nossa plumagem, pegou carona nas nossas asas e, de repente, nos descartou feito sobra d’água num copo de quem já saciou a sua sede.
Assim como acontece a um imponente balão de São João, muitas vezes, nós mesmos não damos conta do nosso brilho, mesmo que efêmero, não o exaltamos como deveríamos fazê-lo e nos deixamos perder, ofuscar ou desvalorizar sob o manto de uma danosa, dispensável e injustificável modéstia.
Assim como ao final da existência de um vistoso balão de São João, um dia, alguém que eventualmente nos exalte, poderá ter que arcar com uma despesa que involuntária, ou inocentemente, provoquemos.
Assim como um balão de São João, muitas vezes somos aclamados num esplendor festivo em contraste com a imensidão de um céu borbulhante em fogos de artifício, mas logo atirados nos braços de uma calmaria de ares fúnebres entre cinzas que o vento sopra ao léu e roga ao tempo para que ele apague as pegadas por nós deixadas.
Tal qual ocorre com um altivo balão de São João, um dia a nossa chama se extinguirá, transformando-nos numa sombra imperceptível aos olhos dos que ficam, em total contraste com os discursos dos nossos projetistas, dos nossos simpatizantes…
Assim como um magnífico balão de São João, um dia não passaremos de singelas lembranças. Lembranças que, também um dia, não resistirão às borrachas do tempo.
Silvio Cayua 

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