De que vale idolatria sem companhia, companhia sem primazia, primazia sem cortesia…? De que adiantaria uma cortesia doentia?
De que vale uma paixão que não se revela, um trovador sem uma janela, uma serenata sem a imagem dela…? De que vale tanto sofrer pensando nela?
De que vale um amor sem nenhum calor, um violão sem um tocador, um avião sem nenhum aviador…? De que adianta perdoar sem abraçar o pecador?
De que vale amar sem ser amado, admirar sem ser admirado, idolatrar, mas ser menosprezado…? De que adianta acumular água num balde rachado?
De que vale uma chama que não se inflama, um amor que não se proclama, um lindo poema que ninguém declama…? Uma lágrima sentida que dos ais jamais reclama…?
De que vale explicar sem justificar, amar sem se declarar, abraçar, mas não beijar, beijar, mas não abraçar…? De que adianta ir ao baile, mas não poder dançar?
De que vale um navio à beira de uma estrada, um barquinho de papel sem uma enxurrada, um pescador sem uma jangada…? De que vale uma linda canção que jamais é cantada?
De que vale venerar sem poder comprar, comprar, mas não poder usar, amar, mas não poder se casar…? De que vale se casar, mas de um grande amor não desfrutar?
De que vale uma noite mal dormida, uma luz sem uma vida, um coração sensível, mas todo em feridas…? Qual seria o proveito, afinal, de uma declaração reprimida?
De que vale um sonho que não acontece, uma missa sem uma prece, uma atividade que lhe aborrece…? O que vale, enfim, uma companhia que não lhe merece?
De que vale ter asas, mas não voar, conhecimentos, mas não repassar, poderes numas mãos que não vão ajudar…? Para que servem umas sementes que já se sabe que nem vão germinar…?
De que vale um arroio que não canta, uma beleza que não encanta, uma sugestão que não adianta…? De que serve um remédio tão caro, mas que a dor não suplanta?
De que vale um botão que não vira flor, uma cantiga sem um cantador, uma aula sem um professor…? Qual o destino, enfim, de um barco à deriva sem nenhum remador?
De que vale absolver, mas não esquecer, ler, mas não entender, entender, mas distorcer…? De que adianta estar ao meu lado, mas, sequer me perceber?
De que vale só parecer? Apenas parecer…!
Silvio Cayua – Ajeb-CE
0 comentários