Livros Publicados
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Livro lançado em 02 de março de 2024 através da Livraria Leitura do Iguatemi Boesque – Fortaleza!
ENTREGA PERSONALIZADA EM FORTALEZA!!!
FRETE GRÁTIS PARA TODO O BRASIL!!!
VINTE ANOS DEPOIS
Vinte anos após a ousadia de externar a minha forma de ver mundo pela primeira vez, através de um livreto de 80 páginas intitulado “Pelos Caminhos da Memória” reunindo 31 modestas crônicas de minha autoria, dentre as quais uma já premiada em 2º lugar em concurso literário local, cá estamos externando uma evolução, o desabrochar de um sonho que ali parece ter nascido, decolado e aqui pousado através de uma pomposa e ousada obra denominada “Lições do Pensar”.
Jamais esquecerei do que ouvi do dono da gráfica escolhida para transformar os meus rascunhos em primeiro livro, nos seguintes termos: “Eu não sei o que você tem aí nessas páginas de A4 aí, mas essa assessoria aí (reportando-se à revisão, prefácio e abas) é forte – caindo em risos. A assessoria à qual ele se reportara, era constituída pelos nomes Vicente Alencar, Giselda Medeiros e o saudoso Moacir Gadelha de Lima. De fato, para quem estava “tentando começar” um projeto, era um time que impunha respeito.
Duas décadas depois, hoje, eu reconheço que a semeadura foi grande, a colheita também e que as perspectivas de mais crescimento são portas escancaradas à evolução, já que aquela forte assessoria se tornou mais forte ainda com a inclusão de algumas redes sociais onde passei a publicar conteúdos similares a esse que compõe o novo livro, das instituições literárias que passei a integrar e ter alguns textos premiados, da Editora CeNE, aqui mesmo do Ceará, com a sua visão diferenciada de composição gráfica e da Gráfica Santa Marta, da capital paraibana, com a qual há algum tempo eu passei a namorar.
Vamos em frente?
um pouquinho do livro!!!
Navegar é possível
Autora: AJEBSP e AJEB Nacional
Editora: Oficina do Livro Editora
Ano de 2024
Coletânea de textos produzidos pelas integrantes da Associação de Jornalistas e Escritoras Brasileiras, cujo tema é : Navegar é possível.
Segundo a doutrina estóica, o eudemonismo (busca da felicidade como o bem supremo) não consiste no prazer dos sentidos, senão no exercício da própria virtude. Para isso, é imperativo viver eticamente de acordo com a natureza, ou seja, conforme a razão. Assim, o homem encontrará a felicidade tão-somente na aceitação do seu destino, combatendo as forças da paixão, uma vez que estas o conduzem à intranqüilidade. Se, resignado ao destino, ele resigna-se também à justiça, pois o mundo, sendo racional, o é do mesmo modo justo.
Ao adentrarmos Pedaços de Vida, o novo livro de Silvio dos Santos Filho, e antes de tecer-lhe quaisquer considerações, achamos por bem digredir, embora rapidamente como o fizemos, em torno do estoicismo, para que possa você, caro leitor, compreender o fio narrativo com que o Autor tece esse seu primeiro romance.
Senão vejamos: Caiuá, o protagonista, é tomado de paixão, desde a adolescência, pela bela Tabajara. Devido a traumas familiares, ela não quer deixar-se envolver afetivamente por ninguém. Gosta de ser cortejada, ver admirada a sua beleza e sente quase que um prazer indizível em ter os homens como súditos de sua formosura inatingível. O destino, entretanto, tece suas teias ardilosas, e, em meio a tudo isso, Caiuá começa a desenvolver seus mecanismos de defesa. E é aí que tudo tem início. Ante a frustração e o desespero que o abate, ele resolve encetar, em peregrinação constante, uma verdadeira busca de si mesmo, para que, assim, possa compreender a si e, conseqüentemente o outro. E, nesse verdadeiro aprendizado, é induzido pela própria razão a procurar a aceitação do seu destino, lançando-se à procura da verdadeira felicidade pelo exercício da virtude, empenhando-se em desprender-se do que é simples matéria, em detrimento da felicidade da alma. Essa sua resignação acaba, ao final, por atingir Tabajara, que, paulatinamente, começa a banalizar os valores materiais, terminando por aceitar as regras que lhe impôs o destino.
Desnecessário é, então (o leitor já deve ter tirado as suas conclusões), dizer que o fio condutor de Pedaços de Vida está centrado, justamente, nesta concepção estóica vivida pelos protagonistas. A luta entre a razão e a emoção, entre a paixão terrena e o prazer espiritual, assumida por Caiuá torna-se, ao longo de toda a narrativa, o elemento que determina o encadeamento das ações, dos conflitos, da trama que, diga-se, bem urdida, é conduzida magistralmente pela sensibilidade da pena do Autor.
Ressalte-se em Silvio dos Santos a capacidade de saber entreter o seu leitor, mantendo-o enredado na sua teia narrativa. Com uma linguagem bem trabalhada, ele nos leva a momentos de raro encantamento, quer seja através das descrições que faz dos lugares, numa verdadeira apologia à natureza, quer seja na descrição psicológica das personagens, quer das situações dramáticas vividas por elas. Isso, é bom que se diga, leva-nos a refletir sobre a vida, sobre a sociedade e seus valores, sobre a nossa indigente condição humana neste mundo, hoje ainda tão arraigado a conceitos distorcidos e inúteis.
A saga de Caiuá é-nos repassada, em terceira pessoa, por um narrador onisciente. Trata-se de uma história comum, vivida por grande parte das pessoas, ou seja, um drama amoroso, em que Caiuá é esmagado pelo preconceito, pela força do poder econômico. O mérito, porém, desta história, está na maneira como o Autor conduz a trama, sempre deixando o leitor antenado à espera do desfecho e querendo tomar vez entre as personagens, torcendo por um final feliz.
Pedaços de Vida compartilha, portanto, do mistério insondável da alma humana, mostrando-nos que a dor, o sofrimento, mesmo a morte, são uma espécie de refrigério para a alma, pois assim engrandecida, passa a buscar uma felicidade paraterrestre, quando serão anuladas todas as misérias, todas as vulnerabilidades próprias da condição humana.
Eis aí, portanto, caro leitor, um livro que nos traz grandes ensinamentos. Todo ele é uma resposta à nossa necessidade de fins. Recria um horizonte que, mesmo ficcional, traduz a realidade de nossa pobreza humana, denunciando-a e, ao mesmo tempo, trazendo-nos a certeza de que há uma salvação a brotar das próprias chagas do mundo.
Agora, deixamos em sua companhia este Pedaços de Vida, certos de que a emoção vai aflorar-lhe, logo nas primeiras linhas, e acompanhá-lo até o ponto final.
Ao Sabor do vento e da inspiração
Giselda Medeiros
Ano de 2012
Aristóteles, o grande filósofo grego, nascido em 384 a.C., induzia os seus seguidores a perseguir esta verdade: “A existência é uma dádiva que nos foi concedida pela natureza, mas uma vida bela somente a sabedoria nos pode proporcionar”.
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Lendo os originais de Asas ao Vento, mais um livro de Silvio dos Santos Filho, somos levados a pensar e repensar na assertiva de Aristóteles. Uma dádiva concedida é uma responsabilidade que, também, nos vem junto.
Viver a vida por vivê-la, simplesmente, vendo passar o tempo, “esperando a morte chegar”, é uma existência que nada vai acrescentar, passa despercebida, sem deixar marcas nem ecos. É necessário, pois, que tenhamos sabedoria suficiente para tomar atitudes que, pelo contrário, fortaleçam-nos e criem raízes para alimentar gerações vindouras.
Silvio dos Santos sabe fazer valer essa dádiva que lhe foi concedida.
Por meio de seus textos, podemos visualizar uma existência humana, em que procurou mesclar acontecimentos agradáveis e desagradáveis, felizes ou doloridos, para, daí, partir, muitas vezes, humoristicamente, outras, jocosamente, e deixar impressas, em livro, suas lições, exercitadas com sabedoria ao longo de suas vivências, ora como o despretensioso caboclo nortista:
“Sim…! Sou o caboclo canoeiro dono daquela estratégia
De espiar a cunhã bonita
Da flor da vitória-régia.”
Ora, como o humilde aprendiz de escritor: “Os verdadeiros escritores que me desculpem pela ousadia. Gostaria que entendessem que eu só resolvi brincar um pouco, comigo mesmo, utilizando o seu instrumento”.
Ora, como repentista verdadeiro:
“Venho lá das ribanceiras,
Das jangadas traiçoeiras…
Das moças namoradeiras
E das suas alcoviteiras
Que teimavam em me provar.”
Algumas vezes, como um bom humorista:
“Numa noite, aperreado,
Zé desceu, desconfiado,
já postando-se de lado,
começou o caqueado.
Que surpresa do coitado…!
para o seu maior azar,
sua sogra estava lá
e a muié… Do outro lado!
Mas também há, no autor, Silvio dos Santos, um trovador inspirado:
“Meu melhor tempo vivido
Foi meu tempo de criança.
Tinha um mundo colorido
Na moldura da esperança.”
Prezado leitor, recomendamos-lhe Asas ao Vento, um livro para ser lido e relido, despreocupadamente, num alpendre do sertão, esperando a lua cheia; numa rede a balançar ouvindo o vento chorar; numa cama a esperar o sono conciliar; numa praia ensolarada, vendo biquínis passar.
Enfim, Asas ao Vento é para ser degustado em todos os momentos, porquanto trata de tudo um pouco: tem mistérios e verdades, brincadeiras e inteireza de caráter, porque o livro é resultado de momentos bem vividos.
Com essa obra, Silvio dos Santos marca, por completo, seu estilo. Aprendeu sabiamente a lição de um de seus mestres: “Defina um caminho para si e seja fiel a ele. Se o sucesso vier, virá com a sua cara. Nem haverá necessidade de assinaturas para que as pessoas associem o seu nome às suas obras…”.
Giselda Medeiros
Pedaços de Vida
Giselda Medeiros
Presidente Nacional da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil
Ano de 2005
Zenão de Cítio, que viveu por volta do século IV a. C., é o autor de um sistema filosófico denominado estoicismo, escola que, da Grécia antiga, transmitiu-se ao mundo romano, tornando-se uma constante na história do pensamento ocidental.
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Segundo a doutrina estóica, o eudemonismo (busca da felicidade como o bem supremo) não consiste no prazer dos sentidos, senão no exercício da própria virtude. Para isso, é imperativo viver eticamente de acordo com a natureza, ou seja, conforme a razão. Assim, o homem encontrará a felicidade tão-somente na aceitação do seu destino, combatendo as forças da paixão, uma vez que estas o conduzem à intranqüilidade. Se, resignado ao destino, ele resigna-se também à justiça, pois o mundo, sendo racional, o é do mesmo modo justo.
Ao adentrarmos Pedaços de Vida, o novo livro de Silvio dos Santos Filho, e antes de tecer-lhe quaisquer considerações, achamos por bem digredir, embora rapidamente como o fizemos, em torno do estoicismo, para que possa você, caro leitor, compreender o fio narrativo com que o Autor tece esse seu primeiro romance.
Senão vejamos: Caiuá, o protagonista, é tomado de paixão, desde a adolescência, pela bela Tabajara. Devido a traumas familiares, ela não quer deixar-se envolver afetivamente por ninguém. Gosta de ser cortejada, ver admirada a sua beleza e sente quase que um prazer indizível em ter os homens como súditos de sua formosura inatingível. O destino, entretanto, tece suas teias ardilosas, e, em meio a tudo isso, Caiuá começa a desenvolver seus mecanismos de defesa. E é aí que tudo tem início. Ante a frustração e o desespero que o abate, ele resolve encetar, em peregrinação constante, uma verdadeira busca de si mesmo, para que, assim, possa compreender a si e, conseqüentemente o outro. E, nesse verdadeiro aprendizado, é induzido pela própria razão a procurar a aceitação do seu destino, lançando-se à procura da verdadeira felicidade pelo exercício da virtude, empenhando-se em desprender-se do que é simples matéria, em detrimento da felicidade da alma. Essa sua resignação acaba, ao final, por atingir Tabajara, que, paulatinamente, começa a banalizar os valores materiais, terminando por aceitar as regras que lhe impôs o destino.
Desnecessário é, então (o leitor já deve ter tirado as suas conclusões), dizer que o fio condutor de Pedaços de Vida está centrado, justamente, nesta concepção estóica vivida pelos protagonistas. A luta entre a razão e a emoção, entre a paixão terrena e o prazer espiritual, assumida por Caiuá torna-se, ao longo de toda a narrativa, o elemento que determina o encadeamento das ações, dos conflitos, da trama que, diga-se, bem urdida, é conduzida magistralmente pela sensibilidade da pena do Autor.
Ressalte-se em Silvio dos Santos a capacidade de saber entreter o seu leitor, mantendo-o enredado na sua teia narrativa. Com uma linguagem bem trabalhada, ele nos leva a momentos de raro encantamento, quer seja através das descrições que faz dos lugares, numa verdadeira apologia à natureza, quer seja na descrição psicológica das personagens, quer das situações dramáticas vividas por elas. Isso, é bom que se diga, leva-nos a refletir sobre a vida, sobre a sociedade e seus valores, sobre a nossa indigente condição humana neste mundo, hoje ainda tão arraigado a conceitos distorcidos e inúteis.
A saga de Caiuá é-nos repassada, em terceira pessoa, por um narrador onisciente. Trata-se de uma história comum, vivida por grande parte das pessoas, ou seja, um drama amoroso, em que Caiuá é esmagado pelo preconceito, pela força do poder econômico. O mérito, porém, desta história, está na maneira como o Autor conduz a trama, sempre deixando o leitor antenado à espera do desfecho e querendo tomar vez entre as personagens, torcendo por um final feliz.
Pedaços de Vida compartilha, portanto, do mistério insondável da alma humana, mostrando-nos que a dor, o sofrimento, mesmo a morte, são uma espécie de refrigério para a alma, pois assim engrandecida, passa a buscar uma felicidade paraterrestre, quando serão anuladas todas as misérias, todas as vulnerabilidades próprias da condição humana.
Eis aí, portanto, caro leitor, um livro que nos traz grandes ensinamentos. Todo ele é uma resposta à nossa necessidade de fins. Recria um horizonte que, mesmo ficcional, traduz a realidade de nossa pobreza humana, denunciando-a e, ao mesmo tempo, trazendo-nos a certeza de que há uma salvação a brotar das próprias chagas do mundo.
Agora, deixamos em sua companhia este Pedaços de Vida, certos de que a emoção vai aflorar-lhe, logo nas primeiras linhas, e acompanhá-lo até o ponto final.
Pelos caminhos da memória
Vicente Alencar
Academia Cearense de Retórica
Ano de 2004
Uma prosa deleitante
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“É final de uma tarde chuvosa. Praticamente, já se foi mais um daqueles monótonos dias em que, por ser domingo, pouco movimento se viu por aqui.
Deitado estou. Inspeciono a brancura do teto do meu quarto, detecto disfarçadas manchas na sua textura e já me lembro de que amanhã é mais um dia de batalha”.
Poderíamos abrir, em qualquer página, este Pelos Caminhos da Memória, caro leitor, e a sensação de se estar degustando uma prosa deliciosa seria sempre a mesma.
Isso porque Silvio dos Santos, que estréia agora em livro, sabe como e onde ir buscar as palavras certas para o momento exato que está retratando. Seu olho de artista plástico mergulha fundo na imagem, penetra-a apetrechado de emoção, e sai a burilá-la, a esfumaçá-la em nós, com os pincéis de sua memória privilegiada.
Nascido na Amazônia, região de beleza ímpar, mas de paradoxal assombro pela fúria de suas matas e águas, esse caboclo de pele tostada pelo sol do Norte não esconde o orgulho de se assumir como tal: “Virei criança de pés no chão, perambulando pelas picadas, me arriscando pelas jangadas… Pisando o lixo das palafitas, jogando bola, soltando pipas… / … / Correndo riscos nos pantanais, fincando os pés nos lamaçais… Colhendo palha de buriti, tomando vinho de açaí… Fazendo abrigo nas canaranas, dormindo em rede – não tinha cama”.
Ressalte-se o tom melodioso de sua prosa, muitas das vezes poética, a esboçar o ritmo dengoso da terra, do vento, das águas a se impregnar na alma para irromper furiosamente belo nas palavras, expressões e imagens de seu chão, jamais olvidado.
Frise-se, outrossim, ser o autor de Pelos Caminhos da Memória um hábil manejador de cores.
Assim é que tanto a palavra quanto o pincel vão orientando-o pelas sendas, ora da linguagem verbal, ora da linguagem das cores, num exorcizar de imagens de visível prazer estético. Daí saltarem de suas telas e de sua palavra, em precisas pinceladas, verdadeiros hinos de amor à natureza e à vida.
Mas não é só o poder telúrico que nos chama a atenção nesta prosa de Silvio dos Santos.
É também a grande lição de vida que ele nos dá. Através de sua palavra sóbria, linguagem clara e precisa, vão-se-nos abrindo clareiras de amor ao próximo, de grandeza de espírito, de aceitação das nossas dores, porque vindas das sábias mãos de Deus para nos expurgar os males do espírito.
E, sabemos, cresce-se mais à proporção que vamos aprendendo a lidar com as nossas indigências humanas.
Por tudo isso, prezado leitor, aconselho-o a penetrar neste mundo de palavras, seguindo firme Pelos Caminhos da Memória, os quais Silvio dos Santos vai abrindo à nossa frente para deleite dos olhos e da imaginação.
Giselda Medeiros – Presidente Nacional da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil
Chão e pegadas
Rejane Costa Barros
Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil
Ano de 2010
A letra poética de Silvio, bendito pelos santos.
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Quando criança, um parente presenteou-me com um livro. No livro, a história da persistência. Chamava-se MENSAGEM A GARCIA e o autor era Elbert Hubbard. A história fala que a um homem fora dada uma missão quase impossível. Teria que levar uma mensagem a uma pessoa que não conhecia, num lugar que não sabia onde era. Assim mesmo, aceita o desafio e a ele se dedica com afinco e perseverança. A aventura é fantástica porque são enormes os obstáculos que enfrenta. Ao término, a gente se comove com a coragem e o otimismo do personagem que nunca desiste de sua tarefa, mesmo caindo tantas vezes e tendo o mundo todo contra ele.
Lendo a mensagem a Garcia, ficamos cheios de entusiasmo, e acabamos dizendo a nós mesmos que nada nos impedirá de conquistar o mundo. Ao nos depararmos com mais uma obra de Silvio dos Santos Filho, temos a certeza de sua evolução literária e de sua construção na prosa poética, de sua persistência em levar sua mensagem aos leitores e a eles permitir ter esperança. A cada tijolo colocado, sua obra se engrandece e se descortina diante de nossos olhos num deslumbramento pulsante.
Há neste livro um sopro de energia que nos passeia à alma, nos envolve o semblante, nos traz alegrias, nos permite muitos momentos de emoções. Os textos produzidos em linguagem simples, nos mostra um autor de espírito grande e a conduta sublime dos bons, auferindo das coisas e do tempo motivações e arrebatamentos, mostrados em sua obra que se tornam para nós, retratos de um dia a dia de expressões cristalinas e o doce perigo da aventura a rondar nossas pegadas.
Silvio dos Santos Filho se mostra maduro, aprimorado pela experiência, vivido em suas leituras, onde o exercício maior é a imaginação. Consciente de que muitos se perdem em outros lugares, ele trabalha com a paciência de um artesão, fazendo e refazendo as rendas de um bordado demorado, cuidadoso. Vai cortando arestas e plantando raízes que sabe muito bem, darão planta boa, forte, fluente.
Pela frente sabe que tem o horizonte perpétuo dos filhos de Orfeu e sabe também que traz nesta obra um recado: que viver é o mais importante e necessário. Mesmo passando por agruras, devemos pensar no amanhã, que será sempre melhor que o hoje. As perdas, as decepções, as lamúrias, devem ser deixadas de lado e o sorriso leve e morno de um amigo pode nos redimir de todo e qualquer mal.
Seu livro é rico em detalhes, em verbos conjugados, em veredas a serem desvendadas e cada leitor que nele ponha as mãos, vai se enxergar em algumas das histórias nele contidas. Há nesta publicação uma riqueza de temas com os quais o autor constrói sua escritura e nos cristaliza as sensações.
Imaginamos vários lugares em um só, várias pessoas numa só, muitos momentos em nenhum especial. O comum dá lugar ao vertical, ao poético jeito do autor nos apresentar sua prosa. Essa verdade estética é experiência amorosa, é maneira simples de edificar o crescimento literário deste homem que desvenda sua alma e fala de amor e morte como se esses sentimentos fizessem parte de um só itinerário.
As palavras se ampliam e criam asas, voando entre figuras de linguagem e o esboçar de um distinto ato de doação: o amor.
Em seus passos de andarilho, vem açoitando as mulas mancas que teimam em estacionar em seu trajeto, tirando lições e criando alguns truques de como enganar o destino, riscando um traço a cada esquina e fazendo curvas em toda extensão de seus afetos.
A literatura é sua senhora e dona, amada e amante de quase todas as horas. A terra de Iracema e Alencar o acolheu de braços abertos e não se arrepende de ter registrado em seu cartório maior, o coração, esse filho bondoso, vindo de longe para ser o mais fiel intérprete da alma nordestina, dando o tom certo às canções que vem compondo por esse caminhar poético.
Retire as pedras, sopre a poeira e acalente suas serenas lembranças de menino sonhador, de ilustre caminhador, de condutor maior do seu passeio em busca desta que é a única construção à qual o homem se permite, sem medos e sem moléstias, que é a busca para a felicidade e a certeza de todas as conquistas!
O que justifica viver é a busca da felicidade.
Este é um livro para ser delicadamente folheado e lido sem pressa!
Limite Extremo
Zenaide Braga Marçal
Presidente da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil
Ano de 2008
Em “Nota Explicativa” no seu livro – Pelos Caminhos da Memória – o escritor Silvio dos Santos Filho afirma: “Nossa obra reflete aquilo que existe dentro de nós.
Somos o que fazemos. O produto do nosso trabalho, independentemente da linguagem e da natureza, é o nosso retrato interno”. Assim estão explicadas a coerência e a beleza das reflexões filosóficas que encontramos em tudo o que escreve.
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Este seu segundo romance, como o primeiro – Pedaços de Vida – é narrado em terceira pessoa. Trata-se de uma história na qual põe toda a sua criatividade e que se desenrola a partir do ano 2100, quando já se manifestam as dificuldades climáticas decorrentes da inconseqüência dos homens no trato com a Natureza.
Num comentário feito à pág.74 da revista “Magazine Littéraire” – nov.de 2006, a professora de Literatura Francesa Marie-Christine Bellosta assim se expressa: Afirmar que uma criação literária pertence a determinado grupo filosófico ou político é desconhecer o poder que toda obra tem de buscar o seu próprio fim estético, de abrir as brechas do imaginário, ou de fazer ver o sentido, independentemente da ideologia consciente do autor.
Entretanto, logo no início deste livro intitulado Limite Extremo, o autor nos
explica o porquê do contexto no qual se desenrola a trama e nos faz pensar em etiquetá-
lo como um livro de cunho social; como um chamado de atenção ao descaso que se verifica quanto à proteção e à defesa do nosso planeta Terra; um alerta da Natureza sempre generosa com seus filhos, mas que começa a dar sinais de impaciência com a forma pela qual nós a tratamos.
Seu principal personagem, Manfred, um médico bem sucedido apesar das circunstâncias que o cercam, vê-se diante de fatos sobrenaturais que terminam por fazê-lo transpor os limites do tempo e encontrar-se, inexplicavelmente, no contexto de uma época futura, onde se desenrola a maior parte da narrativa. Passa a viver nesse meio hostil e tem sua solidão amenizada pelo acolhimento de um amigo, Neymar, e pelo amor de Sarita, cuja doçura o acompanha nas inquietações causadas pelas suas próprias perguntas sem respostas. Começa, então, a ser chamado Jacques e a viver no meio de um povo desesperançado.
Na paisagem de terra e de pedras, o verde das plantas é presente apenas em pequenos núcleos, nos lugares que lhe são caros, como nos arredores da casa onde morava com a família e também no jardim da casa de Sarita que personaliza o novo encontro com o Amor. Do nosso ponto de vista, este verde simboliza a felicidade. Talvez encontremos aí sutis referências do escritor ao Amazonas, sua sempre amada terra natal, riquíssima em belezas naturais.
O autor descreve com minúcias não só o cenário onde se desenrola o enredo mas, também, os fatos aí acontecidos, levando o leitor a sentir os reflexos das emoções que envolvem seus personagens e a “entrar” no palco desses acontecimentos.
Silvio dos Santos nos dá mostras de grande sensibilidade e de larga capacidade de expressão, o que será, sem sombra de dúvida, constatado pelos que tiverem a feliz oportunidade de ler este livro. Parabéns ao Autor e aos Leitores!
A casa da ladeira
Ano de 2009
(Uma doce lembrança dos meus tempos de criança)
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Havia, à frente da velha casa da ladeira, duas caramboleiras entrelaçadas que, nos dias de sol, despejavam pelo chão uma inquieta sombra que passeava de um flanco a outro do terreno.
Nem dá para imaginar o número de vezes em que eu, por ali disfarçado, deixei-me dominar pelos mais desvairados sonhos de um garoto levado. Eram torneadas pernas que iam… Eram douradas pernas que vinham. Eram insinuantes rebolados que se locomoviam ladeira acima… Eram provocativas curvas que serpenteavam ladeira abaixo.
Para desse agradável cenário desfrutar servia-me, como encosto, de uma desengonçada mureta que protegia as pessoas dos perigos da elevação da calçada interna: local onde, costumeiramente, aproveitava eu para descansar as inquietas pernas e monitorar o que acontecia no pedaço.
Dentre as inúmeras residências do meu existir, é a mais doce lembrança que faz morada dentro de mim. Fecho os olhos e tudo se me mostra, exatamente, como nos velhos tempos. Da sua construção, recordo-me até do nome do pedreiro – o pouco dinheiro não permitiu que minha mãe contratasse um engenheiro.
O flanco direito – formidável janela para o que de mais marcante havia no meu mundo de então – mostrava-me, em destaque, uma velha olaria, em cujo muro esbarrava o final da Rua Santa Luzia. Por trás, qual autêntico guardião, um velho buritizeiro que, sem aviso prévio, há muito tempo deixara de dar frutos. Limitava-se, através das suas folhas pontiagudas, a sinalizar a intensidade dos ventos, para que eu pudesse empinar meus papagaios de papel.
Ao longe – à direita e à esquerda –, duas discretas serrarias: principais produtoras da matéria-prima das confusas palafitas que compunham grande parte das moradias. Mas, não apenas disso o flanco direito vivia. Numa posição medianeira, terreno a dentro, havia uma infrutífera pitombeira, cuja missão era sombrear o quarto de minha mãe.
Daquela janela contemplei, certa vez, um quadro sombrio ainda presente na minha memória, que me mostrava, no aconchego de galhos escorregadios e folhas molhadas, um pobre passarinho que se digladiava com o frio, após a passagem de um temporal.
A vida do coitado parecia estar chegando ao fim. Mais ao fundo, uma lúgubre e robusta jaqueira que, rotineiramente, parecia querer antecipar o final de tarde e a retardar o início do dia. Não sei por que, algo de muito estranho nela parecia haver. Sempre a olhei desconfiado…! Insinuava-me abrigar seres estranhos nas trevas precoces que a envolviam. Ainda me causam arrepios as lembranças de algo que, certa vez, teria corrido atrás de mim, e que me levara ao desmaio na metade da escada que dava acesso à cozinha da casa. Ainda hoje, fechando os olhos e retrocedendo no tempo, as mesmas imagens consigo resgatar. O resultado é esse arrepio que me dá!
No fundo do quintal, o dispositivo dos vegetais era meio tumultuado. Lembro-me, com perfeição, de uma esguia goiabeira que a tudo teria comandado. Utilizando-se, matreiramente, de seus braços longilíneos e resistentes, apoiava-se sobre os arbustos inferiores que compunham uma espécie de farmácia natural de minha mãe. E por ali ia ficando, ficando… Com ela ninguém mexia, temendo os danos que uma poda pudesse causar.
Contorneando o cercado de trapos de madeira, chegávamos ao flanco esquerdo, onde deparávamos uma imponente pupunheira. Na realidade, duas… Ou três. Sei lá! A velha memória de hoje já não me deixa precisar. Tenho a impressão de que o número variava com o passar do tempo. Parece-me que, antes de morrer, uma velha árvore, cuidadosamente, fazia germinar outra; ou duas outras… E assim sucessivamente.
Fato é que sempre havia uma pupunheira com seus frutos fantásticos, a abastecer os incontáveis cozinhares das panelas de minha mãe. Vivia eu, monitorando o amadurecimento dos cachos. Era eu quem os condenava à morte! Ainda bem que, àquela época, nem se falava em palmito. No ponto médio do terreno – à altura da já citada pitombeira que ficava do outro lado – encontrávamos um teimoso cajueiro que resolvera instalar-se num espaço de meio metro entre a cerca e a cobertura do barraco.
Ali fincara os pés e subira em direção ao telhado de palhas, apenas dando a impressão de que dele se esquivaria. Era essa, talvez, a mais complicada das árvores do simplório pomar. Com tanto espaço no terreno, cismou de brotar, exatamente, no mais inadequado lugar. Ostentando numerosos frutos, quais sinos amarelados dependurados numa árvore de natal, vivia a desafiar a destreza da molecada que desejasse dos seus frutos provar. Decididamente, jamais facilitou as coisas…!
Mais à frente, quase retornando à área frontal da casa, encontrávamos um altivo pinheiro que minha mãe trouxera de uma viagem que fizera ao Rio de Janeiro. Era um estranho no ninho. Chegara com pinta de árvore de natal, mas, como que por rebeldia, crescera tanto que se desvinculara do objetivo principal.
Pouco depois, nem dava mais para ornamentá-lo nos períodos natalinos. Subira tanto que passara a desafiar a quem ousasse pensar em podá-lo – principalmente pela sua proximidade aos fios da rede de energia elétrica. Virou parceiro e confidente de um velho poste, fincado no lado de fora. Foi ficando, ficando… Até não sei quando.
Não por acaso, deixei para o final a descrição da peça principal desse pequeno sítio que abrigava a casa dos meus sonhos. Em inquestionável destaque, partindo de um ponto pouco abaixo da posição intermediária do flanco direito, encontrava-se a dona de todo o pedaço: a velha mangueira, com não sei quantos anos a mais que minha idade. Sombreando a segunda metade do telhado, parte da pitombeira, parte da jaqueira e lambendo alguns galhos do cajueiro, era o principal destaque arbóreo do lugar.
Era quem mais aparecia para quem, de longe, se pusesse a observar. Graças à sua imponência, a cobertura da casa ficava menos exposta ao sol ardente. Em compensação, na época da frutificação, difícil era dormir, em decorrência dos impactos das mangas apedrejadas no telhado – mais ainda em noites chuvosas. Mas quem se incomodava com isso? Minha inquietação juvenil, muitas vezes, nem me deixava aguardar a chuva passar, ou o dia amanhecer, para recolher os frutos espalhados pelo chão.
Tais circunstâncias deixaram gravadas na minha memória inusitados momentos de diversão. Naquela época tudo eu podia! Bons tempos em que não precisava me preocupar com problemas de saúde.
Mas o bonde da vida passou, nele peguei carona… E tudo ficou pra trás!
Hoje, movido por uma gigantesca atração que o tempo não foi capaz de apagar, sempre retorno ao lugar… Passo em frente ao terreno que, um dia abrigara a velha casa da ladeira, e a sua ausência me faz surgir aquele costumeiro nó na base da garganta. O que ali se vê é uma espécie de mercado.
Até o arrogante pinheiro foi destronado. O único sobrevivente das motosserras do progresso é o velho poste de cimento armado que, com ares de desgosto, põe-se a me perguntar por onde eu tenho andado… E por que deixei que tudo se tivesse acabado.
* Texto premiado – 9º Lugar – no concurso “Prêmio de Literatura Unifor 2009 – Categoria Crônicas”
Seguindo a minha estrela
Ano de 2005
Texto classificado e publicado na coletânea da VIII Edição do “Prêmio Ideal Clube de Literatura- Prêmio Caio Cid” – Fortaleza-CE
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Certa vez, numa daquelas madrugadas de insônia guardadas nas lembranças da minha adolescência, a vida me apresentou uma grande e brilhante estrela que me observava através das frestas da parede do meu quarto.
Na santa matutice que àquela época me acompanhava, abri a janela e me pus a admirar, qual um jovem enamorado, o desfile de sua magnitude.
Só então notei que não era o único a cortejá-la.
Um jovem buritizeiro que crescera no quintal da minha casa, sob a ação de um vento madrugador que rondava as cercanias, movimentava-se, desesperadamente, na tentativa de espetá-la com suas folhas pontiagudas.
Desprovido do necessário conhecimento, mas, naquele momento, embevecido pelos mais nobres sentimentos, batizei-a de “Grande Estrela da Madrugada” – como se as demais (das imediatamente menores às quase imperceptíveis dispostas no céu) também não o fossem.
E não adianta indagar por que assim procedi, porque não saberia explicar.
Eis que naquele inusitado amanhecer eu, inconscientemente, ganhara a mais fiel companheira e confidente que, certamente, alimentar-me-ia até o fim dos meus dias.
O norteador da minha vida, o justificador dos diferentes rumos que eu iria tomar…
A representação simbólica maior de tudo aquilo que eu almejasse conquistar.
Perdi a conta dos alvoreceres em que nela me vi refletir, que dela me despedi e de tantas coisas que a ela agradeci. Acho, até, que data daqueles tempos a minha mania de pouco dormir.
Se vida efetiva ela tivesse, tenho certeza de que muito riria de mim.
E foi de estrelas e mais estrelas, a partir de então, que se disfarçaram as preferências do meu coração. Os meus anseios mais inusitados, os meus sonhos de garoto – dos mais imediatamente esperados aos mais postergados – converteram-se numa grande estrela que eu deveria conquistar. E tantas foram as estrelas que persegui, e tantas foram as estrelas que perdi…
Mas já nem sei quantas foram as estrelas que já tive a felicidade de abraçar; e quantas são as estrelas que, ainda hoje, vivo a cortejar…!
De faceta em faceta, aquela velha estrela matutina incrustada na minha retina se vem renovando como uma nova sina.
Foi, um dia, uma canoa; uma casa melhorada. Uma simples namorada…! Já foi uma vida boa.
Hora, era uma menina; a mulata que passava; o amor que não chegava… A família por que eu sonhava.
Nas vitórias conquistadas ela foi o meu troféu. Nas derrotas engasgadas, vi-a riscando o céu.
Sabe daquelas situações, em que a gente se vê num estado de total isolamento e louco para conversar com alguém e não consegue?
Pois é quando uma simples companhia equivale à mais brilhante estrela que podemos imaginar.
Em tais momentos, se não tivermos uma estrela firme na mente, a gente se perde.
Estrelas brilham no céu, estrelas brilham na terra, estrelas brilham no ar. Uma estrela é uma luz – um objeto de desejo que queremos conquistar.
Texto classificado e publicado na coletânea da VIII Edição do “Prêmio Ideal Clube de Literatura- Prêmio Caio Cid” – Fortaleza-CE, ano 2005.
Uma carta à minha mãe
Ano de 2010
Querida mãezinha…
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Desculpa-me pelos atropelos da linguagem apressada, mas eu não poderia perder a oportunidade proporcionada por este porta-mensagem preso na perna desta jovem águia a caminho do firmamento, para te mandar notícias minhas, perguntar como vai essa vida de paraíso e pedir perdão por não ter sido capaz de impedir que tão cedo tu me deixasses.
Antecipando respostas às perguntas que deves ter guardado para mim, a saúde do corpo vai bem, a da alma também, mas amor equiparado àquele que tanto me dedicaste eu não encontrei em mais ninguém, o que desanimado me tem deixado.
Abdiquei da morada no cantinho da nossa terra natal onde me deste a luz e me ensinaste a dar os primeiros passos, no entanto retorno periodicamente para revê-lo e reviver as delícias de um passado modesto, mas inesquecível.
Como nos velhos tempos, ainda sigo o teu legado.
Teus valorosos exemplos, no direcionamento da minha família, têm sido a tônica de toda a minha trilha.
Mas ando cansado em decorrência dos anos contabilizados, ligeiramente debilitado e meio decepcionado com algumas das pessoas que se locomovem ao meu redor.
Nas noites em que me sinto mais desolado, recorro àquelas orações que me ensinaste, pacientemente, agradeço ao Criador por mais um dia de vida, rogo ao meu Anjo da Guarda para que me anestesie as feridas, proteja-me dos percalços da vida e olhe por ti onde quer que estejas.
Encerrado o diminuto ritual, esfrego as solas dos pés, uma na outra, para eliminar resíduos de poeira às vistas de quem me observa, porém, intimamente, faço-o para prevenir pesadelos ao longo da noite, conforme tu me ensinaste.
E assim vou vivendo, dos males me defendendo, e o que me parece correto, fazendo. De muitas coisas aprendi um pouco, ajudo a quem de mim precisa, mas nem sempre meu esforço é reconhecido….
Entretanto como se num jogo estivesse, conforto-me lembrando que um dia serei substituído.
Até a próxima oportunidade, mãe querida!
Reza por mim, nesta complicada vida.
Silvio dos Santos Filho
Meu lado menino
Ano de 2005
Num canto qualquer, dentro de mim, vive um menino travesso que de tudo faz para se contrapor ao meu ambicioso projeto de cidadão exemplar…
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Porta-se como uma sombra vulgar a me azucrinar os ouvidos com suas preferências fúteis e vive a me empurrar para os braços da complicação.
Um brasinha irrequieto que se põe a trabalhar na contra-mão da minha boa intenção de sucesso social.
Um pedaço não muito sério que, involuntariamente, carrego em algum lugar do meu interior.
Quando eu quero trabalhar, ele prefere passear na praça. Nos momentos em que eu me predisponho a ler alguma coisa para melhorar a minha bagagem cultural, ele, na surdina, tenta me convencer de que a melhor opção é jogar cartas.
Quando a minha razão me diz que, naquele momento, é bom que eu de casa não saia, é exatamente quando ele cisma de passear na praia. Se eu quero dormir, o coisinha ruim prefere sair – mesmo que nem saiba direito aonde ir.
Quando me sento à frente do computador pensando em escrever, adivinhe aí o que ele me sugere fazer…? Se vou à praia, com o fim específico de me bronzear, adivinhe aí o que ele me aconselha a olhar…? Até ao estádio de futebol o pestinha quer ir de caniço e anzol…!
Imagine a situação em que um respeitável cidadão, muito bem acompanhado, não consegue resistir à tentação de dar aquela clássica olhadela de lado, impulsionado pelo danado do garoto levado que não o deixa sossegado… O pobre coitado, com jeito de desavergonhado, acaba passando por cabra safado.
Ainda estou por descobrir o mistério da sua sobrevivência.
Como conseguiu manter-se jovial – quase infantil – ao longo dos anos?
Como conseguiu esquivar-se do amadurecimento natural das minhas preferências?
Como conseguiu preservar determinadas predileções por debaixo dos panos…?
Por que, comigo, não quis crescer e como conseguiu não envelhecer?
Como consegue ser tão inconsequente?
O que o faz, de mim, tão diferente…?
São respostas e explicações que eu não consigo obter.
E muito tempo eu me ponho a perder tentando entender, ao invés de, apenas, viver e deixar o barco correr.
Acho que, com o passar dos anos – enquanto eu me preocupava em apenas crescer, deixando-o de lado – ele aproveitou para me vasculhar por dentro, conhecer-me muito mais que eu mesmo.
Tornou-se um nativo dentro de mim.
Conclusão: é ele quem sabe das minhas deficiências, dos meus pontos falhos, das minhas frustrações… Das minhas secretas aspirações – aquelas coisas que eu não tenho coragem de admitir.
E é, exatamente, aí que ele atua.
Sempre nos pontos fracos – daí a sua força, a sua eficácia.
E não adianta querer estrangulá-lo, como se faz com um inimigo…
Mas o pior de tudo é que, apesar dos constrangimentos, das encrencas, sou obrigado a reconhecer que ele é o maior responsável pelos grandes momentos da minha existência.
É ele quem compensa essa chatice, essa feiúra do meu lado adulto, do meu lado senhor….
Acho até que, sem ele, minha vida seria uma droga.
Texto publicado em “Policromias – 2º Volume” – Ano 2005 – Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB-CE)
Miragens
Ano de 2007
(O igarapé da Matinha)
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É manhã… Soturno amanhecer de uma nova era.
Um indício de chuva inibe o sol, anunciando um dia triste.
Da minha janela, ponho-me a contemplar a passagem das águas turvas de um velho rio que teima em seguir o seu destino a caminho do seu mar.
Hoje em dia ele passa mais ao longe…
O iminente extermínio já o retirou da trilha que seguia há tempos atrás, cujas margens eram ornamentadas por singelas palafitas.
Já nem dá para ouvir aquele cantarolar que me chegava aos ouvidos qual uma canção de ninar.
Já não vejo o fervilhar da crespidão multicolorida de suas águas, que parecia trazer o céu para o chão…
Já não se vê passarinhos, borboletas e libélulas sob as águas vadiando, e nele matando a sede. Atingido pela seta da irresponsabilidade, foi saindo de fininho com cara de adeus. Foi minguando, minguando… Tornou-se um risco no chão. Vai seguindo essa rotina até desaparecer, como tantos outros já o fizeram.
Entristecido, começo a conferir os dejetos que desfilam na sua superfície: garrafas de plástico, latas de coca-cola, sacos de lixo… Até um resto de colchão, para a minha surpresa, passa rodopiando à minha frente.
Um quê de desânimo acerca-se de mim. Sei que nele a vida já não se faz presente.
Sei que sem ele, cedo ou tarde, por aqui não haverá mais gente.
Fecho os olhos e revejo-o como já foi num certo dia.
Lembro-me, até, de uma singela cachoeira que o abastecia e que lhe dava o impulso inicial para sair em desabada mata adentro, qual um garoto levado.
Recordo-me da alvura dos bancos de areia que floresciam no seu leito e do chacoalhar das suas águas sob o pisoteio das crianças jogando futebol. Chego a ouvir a gritaria frenética da meninada… A minha própria voz chega-me aos tímpanos, àquela algazarra misturada.
Compadecido, resgato-o para baixo do assoalho da minha morada e, através das frestas, revejo-o a desfilar sua limpidez de outrora. Olhos de um saudoso coração, há pouco donos de mim, fazem-me revê-lo escorregando bem abaixo dos meus pés.
Desperto-me e deparo com a dura realidade que se me põe à frente.
Uma mistura de saudade e medo me vem à mente.
Saudade de antigos valores que já se foram, deixando-nos simples lembranças, que se tornarão histórias, no amanhã, e delírios num futuro não muito distante. Dói em mim esse medo do que me reserva o porvir.
Atenção…! Em guarda…!!!
Batem à nossa porta as motosserras do progresso! Invade-nos as narinas a fumaça industrial! Toldam a nossa água os bueiros da morte…!
Uma inexplicável tarja preta é sobreposta à minha visão.
Uma lágrima de dor escorrega-me rosto abaixo…
Texto vencedor do III Concurso Literário Professora Edith Braga – categoria prosa – promovido pela Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil – Coordenadoria do Ceará. Resultado divulgado em 29/11/07 no Centro Cultural Oboé.
Marcas
Ano de 2010
Marcas do que eu fui deixei gravadas pelos caminhos que percorri.
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Vestígios descarregados ou propositadamente assinalados, por lá, foram deixados. Nódoas sutis, caprichosamente geradas, com o propósito de viabilizar a recuperação de cada capítulo de uma história que cuidadosamente construí.
Sinais aqui deixei, de um inquieto moço-velho, louco para a vida dos adultos desvendar.
Depois, de um velho-moço arrependido, procurando uma saída para ao mundo das crianças novamente retornar.
Sangue do meu próprio sangue, conduzido por meus descendentes, segue em frente, misturado a essa gente.
No meu primitivo chão, ainda se podem notar indícios de um tanto prematuro quanto vacilante caminhar.
Passadas curtas, hesitantes, moderadas…. Amontoadas, como quem não sabia aonde ir. Depois, largas, decididas, como quem acabara de se orientar. Finalmente, um único par….. Traumatizante momento que ninguém quer ver chegar.
Curioso, mas a lama da minha estrada pelo meu próprio suor já foi regada. Por lá ficaram indevidas pegadas – o contrapeso do meu legado. Por um olfato muito bem qualificado, o meu próprio odor pode, ali, ser captado.
Discursos que proferi e até monólogos que degluti, contidos, estão nas poucas obras que redigi. Falam eles de lembranças, de heranças…. De dores e de amores. …. De decepção e de perdão.
Nada do que vivi, nada do que senti deixei de fora do que escrevi.
Risos semicontidos vagam sem rumo por esse imenso além. Amargos resmungos, com um quê de quem não está feliz, também.
Vestígios indecifráveis também foram, matreiramente, nelas deixados – astuciosa tentativa de fazer referência a tudo o que não devia ser contado. Estranhas particularidades difíceis de entender; loucuras que perpassam na cabeça de cada ser…. Coisas com que a gente tanto sonha, mas acaba morrendo sem coragem de fazer.
Eis os murais que embelezei…! Também as minhas marcas neles deixei. Flores de maracujás, hibiscos variados, cactos diversificados…. Serenas beiras de rio, singelas palafitas e ninfetas de perfil.
Marcas do que fui: minimizem o meu fim!
Digam às musas de aquarela que não se esqueçam de mim…!
Texto publicado na antologia “Policromias”, Edição 2009, da Associação de Jornalistas e Escritoras do Brasil (AJEB)-Coordenadoria do Ceará, e na nossa 4ª obra intitulada “Chão e Pegadas”, ano 2010.
Ser forte
Ano de 2010
Ser forte…
É alegria demonstrar, para a todas as pessoas com jeitinho enganar,
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É num canto se engasgar, para não se entregar à vontade de chorar.
É quase desesperar, mas os nervos segurar, para tudo disfarçar.
É saber que está morrendo, mas aos outros acalmar.
Ser forte…
É curvar-se à razão em detrimento da emoção,
É ninar o coração, pra poder não fraquejar frente a desolação.
É fincar os pés no chão, para não choramingar ante a decepção;
É andar de bicicleta e fingir que é de avião.
Ser forte…
É, aos outros, ministrar, bons princípios que, na vida, não consegue praticar.
É vitória ostentar, pelos danos que da alma, não consegue se livrar.
É firmeza simular, quando dúvidas na mente só nos vêm embaralhar.
É a muitos ajudar, mesmo que da própria fome não consiga escapar.
Ser forte…
É nutrir-se de pirão, simulando consumir carne seca com feijão,
É devolver mais de um milhão e cabisbaixo retirar-se sem levar nenhum tostão.
É pensar que a honestidade é o seu maior quinhão…
É sonhar com extravagâncias, mas andar de pés no chão.
Ser forte…
É a dor no coração, que não sai um só minuto, conseguir deixar pra lá…
É o mundo embelezar só com gestos e palavras, pra a tristeza afugentar.
É de noite acordar e sorrir da própria sina, por não ter com quem ficar.
É a derrota assimilar e dizer que faltou sorte, pra não ter por que chorar.
Silvio dos Santos – Fortaleza-CE
Coisas e pessoas
Ano de 2008
O mundo é feito de coisas.
A vida, de pessoas. Isso é uma imposição natural e dela não há como fugir.
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Coisas… Compram-se, ganham-se! Pessoas… Conquistam-se!
A nossa relação com as coisas é de posse.
Com pessoas, de amizade, de carinho, de amor. Nessa, ou noutra ordem qualquer…!
Coisas se perdem pela vida!
Pessoas nos abandonam pelo mundo; ou nós, por qualquer motivo, as abandonamos. De coisas, guardamos lembranças. De pessoas, saudades…
O ganho, de coisas, nos torna ricos. A conquista de pessoas nos torna queridos.
A perda de coisas nos traz pobreza. A de pessoas, tristeza. A perda de coisas nos tira o sono… A perda de pessoas nos impõe desenganos, sensação de abandono… Ante a perda de coisas, lamentamos. Ante a perda de pessoas, choramos.
As nossas coisas constituem o nosso patrimônio material.
Refletem a nossa capacidade de lidar com o capital, demonstra o nosso sucesso profissional… A quantidade de pessoas à nossa volta, traduz o nosso valor social.
Coisas são bens materiais; pessoas, sentimentais!
Coisas são, na vida, patrimônio.
Pessoas, muitas vezes, são os maiores objetos dos nossos sonhos. Ou faltas, ou carências que nos deixam tristonhos.
Quando supervalorizamos coisas, perdemos pessoas.
Quando exageramos na valorização de pessoas, perdemos coisas. Só pela administração da razão e da emoção o sucesso nos ecoa.
Há coisas e pessoas que ficam por muito tempo… E há aquelas que só nos roçam a face, feito o vento a caminho do firmamento.
Conquistá-las e mantê-las deve ser o nosso intento.
Um dia, cedo ou tarde, todas elas passarão, tornando-se lembranças, saudades… Ou nada.
Afinal, são simples veículos que nos surgem no horizonte, emparelham à nossa porta e se perdem na estrada.
Coisas e pessoas: valores diferentes. Embelezam a nossa vida, ou nos ferem cruelmente.
Mas, a sede nos saciam… São, da vida, inerentes.
uma vida, uma obra grandiosa
Gilbran
(Uma existência para pensar e fazer pensar)
Ano de 2010
A letra poética de Silvio, bendito pelos santos.
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Atestam os registros disponíveis que em 06 de dezembro de 1883, no seio de uma família humilde residente na cidade de Becharre, região montanhosa do Líbano, nascera um menino batizado de Gibran Khalil Gibran, que viria a ostentar os títulos, nada mais nada menos, que o de mais célebre escritor e pintor do mundo árabe contemporâneo, bem como o de maior criador de parábolas depois de Jesus Cristo.
Em consonância com as curiosidades de vida dos grandes nomes da humanidade, dizem as mesmas fontes que, já aos oito anos de idade, enquanto um temporal varria a sua cidade, Gibran olhara fascinado para a natureza em fúria e se pusera a correr com os ventos, sem cogitar qualquer possibilidade de perigo. Quando repreendido por sua mãe, simplesmente lhe respondera: “Mas, mãe…! Eu gosto das tempestades. Gosto delas… Gosto!” (Seu melhor livro em árabe receberia o título de Temporais).
Em 1894, aos onze anos, por motivos aparentemente internos, na companhia da sua mãe, um irmão, as duas irmãs menos o pai, daria início a uma infindável relação com os Estados Unidos da América do Norte, onde até os seus últimos dias viveria, dividido entre as cidades de Boston e Nova Iorque, mas retornando ao Líbano quatro anos depois para completar seus estudos em árabe, matriculando-se numa instituição de ensino denominada de “Colégio da Sabedoria”.
Dizem que a essa época, diante de uma tentativa de o diretor da escola acalmar a sua ambição impaciente mediante a lembrança de que uma escada deveria ser galgada degrau por degrau, Gibran teria reagido retrucando-lhe que “as águias não usavam escadas”.
A essa época, já propagava “que havia dentro de si um poder impaciente por se revelar e que a este mundo viera com uma força mental excepcional que procurava se expressar”.
Em cartas a amigos, encontravam-se declarações do tipo: “Sinto que há nas profundezas de meu coração uma grande força que quer se manifestar, mas ainda é incapaz de fazê-lo”. Meus sentimentos são como as marés de um oceano, mas a minha alma é como uma águia de asas partidas: sofre dolorosamente quando vê os pássaros voar no espaço porque não pode, ainda, imitá-los. Futuramente, outra das suas mais importantes obras receberia o título de “Asas Partidas”.
Aos 15 anos, tentara dar forma a essa força impaciente por se manifestar e faz o primeiro rascunho de O Profeta. Ao ler para a sua mãe alguns trechos do livro através do qual “transformaria o mundo”, ouve-lhe as seguintes palavras: “É um bom trabalho, Gibran, mas seu tempo ainda não chegou. Deixa-o amadurecer!”.
Aceitara o conselho, mas O Profeta jamais sairia da sua pauta, de onde igualmente sairiam inúmeras obras de sucesso, tanto artísticas quanto literárias, enquanto a sua obra-prima amadurecia na sua mente.
Em 1910 começaria a redigi-lo em inglês.
Enquanto suas obras em árabe já o cobriam de glórias, confidenciava aos amigos mais próximos que os seus vinte e poucos anos de escritor e pintor nada mais eram que um tempo de preparação para escrever uma obra que “mereceria ficar à face do sol”. Depois de reescrevê-lo cinco vezes, caracterizando uma gestação de 25 anos, finaliza-o em 1923 e o libera para a edição, suspirando a célebre frase: “Enfim, pronunciei a palavra que carrego desde que nasci e que vim a este mundo para pronunciar”.
A uma amiga espiritual, confidenciaria: “Por que escrevi e publiquei tantos livros? Eu nasci para viver e escrever um único livro, um pequeno livro. Nasci para viver, sofrer e pronunciar uma única palavra, vívida e alada”.
Ratificando um velho discurso dos nossos poetas contemporâneos, segundo o qual um poeta só é grande se sofrer, a vida pessoal de Gibran fora recheada de motivos para levá-lo à expressividade que o levaram.
Envolvido desde os primeiros passos numa vida tocada pelo coração, procurou exercer uma liderança dos fracos e oprimidos pelo clero e latifundiários da época, usando a literatura como uma arma de combate à opressão, culminando com um revide de um bispo da sua cidade natal, proibindo que Gibran, um inconfundível anticlerical, desposasse a sua sobrinha de nome Hala Daer, ironicamente o grande amor da sua vida, cuja ocorrência seria o tema central de outra das suas maiores produções literárias: Asas Partidas, em 1912, um relato da sua vida amorosa com Hala Daer, a quem se referiu como “a primeira mulher a despertar o seu coração por seus encantos, e a guiá-lo ao paraíso dos sentimentos puros… Que fora ela quem o ensinara, por sua beleza, a adorar a beleza”.
Idealista, apaixonado, ambicioso, solitário, feliz e triunfante em seu trabalho, mas perseguindo uma felicidade sentimental que sempre lhe fugia, fazia dos seus personagens os seus heróis, como O Profeta (o maior deles), Khalil, o Ateu, João, o Louco, Jesus, o Filho do Homem, Asas Partidas etc., envolvidos em tramas onde muito sofriam para fazerem triunfar um determinado ideal, já que Gibran era um idealista.
Havia uma unidade entre a sua vida e a sua obra, e defendia uma convicção de que viera ao mundo para conciliar as suas imperfeições.
Fiel às suas pregações, Gibran viveu a realidade das suas obras.
Nunca se casou, nunca se interessou por negócios, dedicou-se exclusivamente à pintura e à literatura. Suas residências foram as mais simples possível tanto em Paris quanto em Boston ou Nova Iorque. Seu modo de viver não se alterou nem quando a venda de seus livros e quadros o tornou milionário.
À beira da morte numa crise pulmonar, num leito do Hospital de São Vicente, Nova Iorque, em 10 de abril de 1931, aos 48 anos de idade portanto, teria dito: “Aspiro a eternidade porque lá encontrarei meus poemas não escritos e meus quadros não pintados”.
Num dado momento do seu velório, em Boston, uma mulher toda vestida de branco, que seria a própria Hala Daer, teria aberto caminho até o corpo de Gibran e lhe depositado um beijo nos lábios frios e se retirado de imediato.
Em 21 Ago 1931 os restos mortais do mais célebre escritor e pintor do mundo árabe contemporâneo, mediante iniciativa de sua irmã Mariana, chegaria à Beirute e levado até Becharre onde, sob efusivas manifestações populares, fora enterrado na vertente de uma colina de silêncio e beleza onde Gibran teria sonhado viver os seus últimos dias.
Sob o seu túmulo, a simples inscrição: “Aqui entre nós, dorme Gibran”.
Silvio dos Santos
Uma surpreendente trajetória, um sucesso mundial
Paulo Coelho
Ano de 2008
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De agraciado pela vida, por nascer em família de classe alta a garoto-problema, decepcionando os pais através de reprovações escolares, crises de depressão, fuga de internações psicológicas, envolvimentos com drogas, fiascos literários e afins, a compositor de sucesso em parceria com os não menos famosos Raul Seixas, Elis Regina e Rita Lee, Paulo Coelho de Souza, O Mago, ou apenas Paulo Coelho, por sua obra, é o nosso Pelé, o nosso Airton Sena da literatura, “doa a quem doer”
Controvérsias à parte, a verdade é que sua obra é vasta, diversificada e reconhecida internacionalmente como a de pouquíssimos escritores.
Nenhum outro escritor brasileiro atingiu tais patamares, tais números….
Nenhum outro escritor brasileiro auferiu títulos, premiações e reconhecimentos internacionais tão elevados quanto ele.
Destacou-se na esfera musical, cinematográfica, na compilação de seus textos que viraram livros de sucesso como O Manual do Guerreiro da Luz, Maktub, Frases, O Gênio e as Rosas e em adaptações de suas obras para telenovelas, cinema etc. Focalizá-la por inteiro seria pulverizar o vento, motivo pelo qual trataremos, tão somente, da produção literária, o foco dessa abordagem.
Estreando como escritor em 1982, através da inexpressiva obra “Arquivos do inferno” e retornando em 1985, com o “O Manual Prático do Vampirismo”, precisou entender que “ainda não seria daquela vez” tendo, inclusive, que mandar recolher todos os exemplares do segundo livro posto à venda, sob a argumentação de tratar-se de uma obra de má qualidade.
Mas o sucesso lhe bateria às portas em 1987, um ano após empenhar-se numa peregrinação pelo “Caminho de Santiago de Compostela”, com a publicação da obra intitulada “Diário de um Mago” (um relato dos três meses de peregrinação que fizera), que lhe franquearia as portas de um sucesso que jamais lhe viraria as costas.
A caminhada às alturas daria passos mais largos já no ano seguinte, com a publicação de “O Alquimista”, a sua obra-prima, um título que ostentaria referências como “livro brasileiro mais vendido em todos os tempos”, “um fenômeno literário do século XX”, “primeiro lugar dos livros mais vendidos em 18 países”, “venda de 83 milhões de exemplares”.
O Alquimista conferiu a Paulo Coelho um assento no renomado Guinness Book of Records como o “autor vivo mais traduzido da história”. Já bem à frente, em 2015, essa obra daria a Paulo Coelho o direito de comemorar um recorde de 7 anos da sua versão norte-americana (Editora Harper Collins) na lista dos livros mais vendidos do Jornal The New York Times.
Outros livros de sucesso publicados a cada 2 ou 3 anos em média, como como Brida (1990), As Valkírias (1992), Na Margem do Rio Piedra – Sentei e Chorei (1994), O Monte Cinco (1996), até Hippie, em 2018, o manteria nas alturas, fato hoje constatado.
Em 25 de julho de 2002, Paulo Coelho foi eleito para ocupar a cadeira de número 21 da Academia Brasileira de Letras, ante a tradição de a referida instituição rejeitar autores de sucesso, vitimando, por exemplo, Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Moraes e Mário Quintana, originando uma interminável polêmica entre críticos, literatos e uma divisão do público leitor brasileiro em afetos e desafetos.
O reconhecimento de Paulo Coelho como um sucesso internacional através do Guinness Book of Records, voltaria à baila em 2003 por ocasião da Feira de Livro de Frankfurt, na Alemanha, como o autor que mais assinou livros em edições diferentes, até então.
Particularidades à parte, fato é que as credenciais de Paulo Coelho dão conta de que ele “ocupa as primeiras posições no ranking dos livros mais vendidos no mundo; que vendeu, até 2018, mais de 350 milhões de livros em mais de 150 países; que suas obras já foram traduzidas para 81 idiomas e que é o autor de língua portuguesa mais vendido de todos os tempos, ultrapassando, inclusive, o grande Jorge Amado, cujas vendas somam 55 milhões de livros, segundo dados disponíveis”.
É um colecionador de premiações internacionais, principalmente, detendo títulos emitidos por países como Espanha, Polônia, Dinamarca, EUA, México, Áustria, Croácia, Alemanha, Hungria, Ucrânia, Sérvia, Itália, França, Iugoslávia etc. e, alguns destes, mais de uma vez.
Apesar do histórico, e não de um simples currículo, não é raro vermos seu nome enxovalhado em suplementos culturais de muitas publicações brasileiras e alvo de desprezo acadêmico, o que não ofusca a sua chegada ao topo da carreira, já que é óbvio que ninguém chega a tanto se não for, realmente, grande.
Um pensamento de Paulo Coelho:
“O mundo está nas mãos daqueles que têm a coragem de sonhar e correr o risco de viver seus sonhos. ”
Gosto
Ano de 2023
Gosto de silêncio, de sensação de liberdade, de falar comigo mesmo, de analisar as próprias argumentações, de apimentar os atrativos dos causos que conto…
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Gosto de silêncio, de sensação de liberdade, de falar comigo mesmo, de analisar as próprias argumentações, de apimentar os atrativos dos causos que conto… E de morrer de rir da cara de espanto de quem me cerca.
Gosto de uivo de temporais, de esvoaçar de cortina de pano, de pancadas de mangas verdes caindo sobre telhados, de gemido de uma chuva chorosa sobre coberturas de palhas… E daquele cheirinho travoso de uma flor de caju.
Gosto que me enrosco de curvas femininas, do olhar insinuante da mulher que passa, do coaxar dos sapos que saúdam o anoitecer, do tilintar de folhas secas varrendo o asfalto… E do cantarolar de passarinhos que se aninham por entre os galhos de uma soturna jaqueira.
Gosto do encrespar das ondas do mar, do vaivém da espuma sobre a areia encharcada, do zunido de um vento gelado que me sopra aos ouvidos, do serpentear de um reflexo do sol que me coça os pés… E do bailado de uma lua azulada sobre as águas dos igapés.
Gosto da maciez da pele de uma delicada donzela, dos olhares fortuitos de uma mulher maliciosa, do brilho insinuante de uns olhos matreiros que me denunciam segredos… E do arrepio de uma voz rouca que me faz sonhar.
Gosto de sonho acordado, de beijo demorado, de carinhos ousados, do pulsar de um coração apaixonado, de desafios difíceis de serem realizados… E da conquista de troféus com os quais eu nem havia sonhado.
Gosto da madrugada, de uma noite enluarada, de manhãs ensolaradas, de fins de tardes amareladas, dos efeitos da brisa matinal sobre uma grama molhada… E do ressonar provocante de uma dama requintada.
Gosto de banhos de rio, de viajar de navio, de um lençol bem macio, de uma fêmea no cio a me acender o pavio… Gosto de viajar por um passado onde todas essas coisas não passavam de desafio.
Gosto da imponência de uma castanheira, do aroma gostoso de uma flor de goiabeira, dos requebrados de uma folha de bananeira… Da delicadeza da flor de urucum, da altivez do mandacaru… E dos narizes arrebitados daquelas mulheres do sul.
Gosto, enfim, de quem gosta de mim e procuro estar longe de quem quer ver o meu fim, pois os tombos da vida me fizeram assim. E assim vou juntando as minhas migalhas, tão feliz quanto nos tempos da cama de palhas, mantendo distância de quem só atrapalha… E me esquivando de agouros de rasga-mortalhas.
Silvio Cayua