Certa vez, numa daquelas madrugadas de insônia guardadas nas lembranças da minha adolescência, a vida me apresentou uma grande e brilhante estrela que me observava através das frestas da parede do meu quarto. Na santa matutice que àquela época me acompanhava, abri a janela e me pus a admirar, qual um jovem enamorado, o desfile de sua magnitude. Só então notei que não era o único a cortejá-la. Um jovem buritizeiro que crescera no quintal da minha casa, sob a ação de um vento madrugador que rondava as cercanias, movimentava-se, desesperadamente, na tentativa de espetá-la com suas pontiagudas folhas.
Desprovido do necessário conhecimento, mas, naquele momento, embevecidopelos mais nobres sentimentos, batizei-a de “Grande Estrela da Madrugada” – como se as demais (das imediatamente menores às quase imperceptíveis dispostas no céu) também não o fossem. E não adianta indagar por que assim procedi, porque não saberia explicar.
Eis que naquele inusitado amanhecer eu, inconscientemente, ganhara a mais fiel companheira e confidente que, certamente, alimentar-me-ia até o fim dos meus dias. O norteador da minha vida, o justificador dos diferentes rumos que eu iria tomar… A representação simbólica maior de tudo aquilo que eu almejasse conquistar. Perdi a conta dos alvoreceres em que nela me vi refletir, que dela me despedi e de tantas coisas que, a ela, agradeci. Até acho que data daqueles tempos a minha mania de pouco dormir. Se vida efetiva ela tivesse, tenho certeza de que muito riria de mim.
E foi de estrelas e mais estrelas, a partir de então, que se disfarçaram as preferências do meu coração. Os meus anseios mais inusitados, os meus sonhos de garoto – dos mais imediatamente esperados aos mais postergados – converteram-se numa grande estrela que eu deveria conquistar. E tantas foram as estrelas que persegui, e tantas foram as estrelas que perdi…
Mas já nem sei quantas foram as estrelas que já tive a felicidade de abraçar; e quantas são as estrelas que, ainda hoje, vivo a cortejar…!
De faceta em faceta, aquela velha estrela matutina incrustada na minha retina, se vem renovando como uma nova sina. Foi, um dia, uma canoa; uma casa melhorada. Uma simples namorada…! Já foi uma vida boa. Hora, era uma menina; a mulata que passava; o amor que não chegava…A família que eu sonhava. Nas vitórias conquistadas ela foi o meu troféu. Nas derrotas engasgadas, vi-a riscando o céu.
Sabe daquelas situações, em que a gente se vê num estado de total isolamento e louco para conversar com alguém e não consegue? Pois é quando uma simples companhia equivale a mais brilhante estrela que podemos imaginar. Em tais momentos, se não tivermos uma estrela firme na mente, a gente se perde.
Estrelas brilham no céu, estrelas brilham na terra, estrelas brilham no ar. Uma estrela é uma luz – um objeto de desejo que queremos conquistar.
Silvio Cayua – Fortaleza-CE
(Texto classificado e publicado na coletânea da VIII Edição do “Prêmio Ideal Clube de Literatura- Prêmio Caio Cid” – Fortaleza-CE, ano 2005)
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